sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Telefonia tupiniquim



Eu não sou tão antigo e sábio quanto meus heterónimos Tupiniquincas e Tupiniqueas, mas sou, sim, de uma época em que era muito difícil se conseguir uma linha telefônica fixa para sua casa. O serviço era puramente estatal, a cargo da Telebrás e suas subsidiárias, como a Telesp, aqui em São Paulo. Funcionava assim: você se inscrevia no Plano de Expansão – bonito nome, não? – e ficava numa fila de espera que poderia demorar anos até chegar a sua vez. Ah, você pagava por isso. Na prática, cada consumidor ajudava a custear a tal ”Expansão”. Já com a linha paga e instalada, depois de um bom tempo, a Telesp mandava uma carta informando sobre os títulos de ações da empresa a que você tinha direito. Não lembro em quanto resultou a venda dessas minhas ações, só sei que era um dinheirinho bom para época (seriam cruzeiros, cruzados, cruzeiros novos? – ah, a nossa moeda mudava muito naqueles tempos bicudos de hiperinflação que marcaram o fim dos anos 1980. Lembrei! Na verdade, embarcávamos na nova era do Real, mais precisamente do pré-Real, mas isso posso contar depois, vamos ao que interessa).
Sergio Motta, ministro de FHC,
morto em 1998
            A grande mudança do país nessa área veio durante o governo FHC, no final da década de 1990. Esse foi o período dos esboços das grandes privatizações de estatais. Conheço bem essa fase, pois, então, atuava como jornalista no setor industrial e de energia. Tive a oportunidade de entrevistar o grande artífice das privatizações da telefonia durante o governo FHC: seu ministro das Comunicações, Sergio Motta. O homem era um tratorzão, tinha afama de postura rude, às vezes, mas conhecia o assunto e encarnava o espírito privatizador daquela gestão federal. Na ocasião, Motta explicou-me quais eram os planos para desenvolver no país novidades como a banda larga para internet e telefonia celular. O plano pareceu-me bem feito e razoável. Eles “fatiavam” a telefonia celular também por bandas, diferenciadas tecnológica e regionalmente. E essas fatias seriam efetivamente leiloadas só depois de sua morte, por infecção hospitalar, em 1998 – especula-se que a doença fora provocada por falta de manutenção do ar-condicionado do seu gabinete, puxa!
Vieram então as grandes multinacionais do setor que ainda aqui estão, e o resto da história todo mundo sabe:
            As gigantes da telecomunicação vieram de olhos gananciosos no grande potencial de nosso país, porém nunca, em meu julgamento, se esforçaram tanto assim para nos prestar serviços ao nível em que prestavam  em seus países de origem. Mais ou menos como se dissessem: “Esse povinho tupiniquim não precisa de tecnologia de ponta, quer só falar ao telefone, vamos ganhar dinheiro e eles que se lasquem”. E é na prática o que está acontecendo conosco. 
Vou dar um exemplo prático:
Comecei a escrever só agora, porque fiquei mais de 20 horas sem conexão, assim como televisão a cabo. Ambos serviços prestados pela empresa Net (que me cobra quase 100 paus por uma conexão de 5 megas, mais uma programação chifrim de TV, que praticamente só traz os canais abertos). A bem da verdade, porém, a partir da reclamação, ontem, mais ou menos às 16h, até que agiram rápido. O técnico veio hoje às 9h e pôs tudo para funcionar. O motivo relatado por ele para a falha foi no mínimo prosaico, para não dizer bizarro: Disse-me o moço que o problema estava no poste da rua. Deu a entender que fora causado por outro colega funcionário da Net. Teria o distraído invertido a numeração da minha casa na etiqueta deles lá no poste. Esse mesmo camarada ou outro da turma da Net constatou que o plano não coincidia com a outra casa numerada e, simplesmente, desligou o serviço. Tudo conjecturas do moço, mas que fazem sentido, fazem, além do que, se trabalha lá, sabe como funciona (ou não) as coisas.

            Em resumo, como consumidor, sinto que não temos para onde correr. Aqui em São Paulo, por exemplo, as opções  de internet se resumem, praticamente, à Net ou à Vivo. Sobre novas competidoras com rede de fibra ótica, como Claro e TIM, pouco posso falar a respeito, são novas, nunca ouvi falar bem ou mal, a não ser da pouco ética mocinha atendente da Vivo, que desandou a falar mal dessa nova concorrência, alegando que ainda não dominavam a tecnologia de fibras óticas, pode?

Paulo Coutinho, repórtertupiniquim que vivenciou grandes momentos da República.
15/11/2013




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