quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Alckmin 4 x 4 Haddad

Num hipotético jogo pela Liga de Serviços Públicos, o embate Saúde Municipal x Saúde Estadual estaria mais ou menos assim: um primeiro tempo de muita gente (nós) embolados no meio de campo de filas e senhas de atendimento. Ambas equipes têm recursos humanos e materiais para vencer a partida. Narrarei mais o segundo tempo, pois até meus primeiros 45 anos de vida, pouco assisti desse jogo, exceto pelas vacinas de praxe, muitas vezes aplicadas na própria escola pública estadual em que frequentei ginásio e colegial - é... sou desse tempo! Hoje fala-se ensino fundamental e ensino médio (esse nono ano  que inventaram era, nos idos anos 1970, chamado de Admissão, ano letivo preparatório para ingressar no primeiro colegial).

Voltando ao assunto, tudo muda, e como adaptar-me a novas realidades passou a ser o meu forte, desde que sofri o AVC em 2005, minha condição financeira também se desintegrou e, prestes a deixar de ter o convênio médico particular, decidi explorar o que há de bom na rede pública - que por sinal não fica atrás de grandes empresas de saúde privadas em termos de tempo de espera para realizar consultas e facilidades para marcar um exame, por exemplo.
 Nesta nova fase de minha vida, o primeiro serviço que utilizei foi uma consulta com clínico geral de um ambulatório da Prefeitura aqui no meu bairro, no Jabaquara. Antes passei pela assistente social, para obter as guias do laudo que logo depois o médico preencheu e assinou. Esse era o procedimento para obter o Bilhete Único Especial - o cartão-passe que permite me deslocar pela cidade de trens, ônibus e metrô, gratuitamente. Gostei do atendimento, 1 x 0 para o time do Haddad. No mesmo ambulatório, procurei informações sobre atendimento odontológico. Lá só havia especialidades de odonto, serviço que mais tarde utilizei - consulta no estomatogista *. Enfim, indicaram-me um ambulatório odontológico na Vila Mariana, de fácil acesso pelo metrô Santa Cruz. 2 x 0 pra Prefeitura pelo bom atendimento e informação precisa. O serviço da Clínica Adyr Amaral Gurgel fez o terceiro gol do Haddad. Fazem o básico lá, pequenas reparações e ênfase na profilaxia - tem uma técnica lá que faz ótima limpeza, dispensando a espátula para raspagem dos dentes e com jateamento de bicarbonato que até clareia bem os dentes. Não espere por próteses , implantes ou coisas mais caras, mas pode contar com atenção à saúde bucal. No meu caso,  me encaminharam para um estomatologista para investigar umas manchinhas brancas na parte interna da bochecha  Detalhe: essa clínica funciona como pronto-socorro diurno. Em caso de dor, é só comparecer com cartão do local e carteirinha do SUS (aquela amarela), que se é atendido com pouca demora.

Ontem, ao precisar de pronto-socorro para o eu pai, que sentia dores no peito, decidimos levá-lo ao hospital mais próximo. E o mais perto de casa é a autarquia hospitalar Municipal Dr. Artur Ribeiro Saboya. A atenção dispensada ao meu pai no atendimento de emergência rendeu o quarto gol para os municipais.

Mas, quando a partida parecia caminhar para uma goleada, eis que a turma do Haddad marcou um gol contra incrível - digno do caso do SAMU de Natal (você que me acompanha nesse blog já eve ter lido meu post a respeito. Enquanto lá faltam macas para as ambulâncias de emergência, no Saboya faltam cadeiras-de-roda. Por orientação da enfermeira, saí eu a procura de uma cadeira para levar meu pai, já de alta, até nosso carro! Ou seja, não bastasse a equipe não providenciar item básico como esse, ainda mandou-mo ir procurar. Quando perguntei ao sétimo ou oitavo segurança onde achar uma cadeira, depois de passar por dentro de enfermarias da emergência do pronto-socorro do imenso hospital, vejo meu pai, de pé, junto de minha mãe. Sem cadeira, fomos caminhando devagarinho até o carro.

O jogo teve reinício hoje, com o placar de 4 x1 para Haddad quando eu e meu pai levamos a minha mãe para exames no Instituto Cardiológico Dante Pazzanese. A excelência desse centro, gerido pelo Estado e cujos alguns serviços eu também utilizei no meu pós-AVC, diminui a diferença no placar 4 x 2. E andando pelo grande complexo do Pazzanese, que teve em seu quadro nomes de renomados cirurgiões, como os Drs. Zerbini e Adib Jatene, fui reparando que em quase todos os corredores havia uma fila de pelo menos meia dúzia de cadeiras-de-rodas à disposição de quem precisasse. O que parece bem razoável num hospital que realiza transplantes e demais procedimentos cardíacos. Por este simples e importante detalhe, ponto para a equipe do Alckmin, placar parcial desta peleja imaginária: Haddad (Prefeitura) 4 x 3 Alckmin (Governo do Estado).

Volto a salientar que trata-se de disputa imaginária, sem o rigor técnico do jornalismo. Nos meus blogs predomina o Paulinho cronista, comentarista do cotidiano e cidadão.

 Senhor Alckmin, não fique triste, pois em matéria de transporte público, o Metrô gerido pelo governo do Estado de SP na Capital, dá de mais de 10 a 0 no capenga sistema de ônibus, ainda mais desorganizado pelo governo de Haddad. O senhor prefeito quer um exemplo? Basta ver os maiores transtornos que benefícios causados pelas famigeradas faixas exclusivas de ônibus. Posso falar porque implantaram esse mostrengo aqui no Jabaquara e testemunhar o flagrante desrespeito por parte de motoristas egocêntricos que teimam em trafegar pela faixa dos ônibus. E correm para sair na frente dos outros lá na frente, na abertura do farol. Nos vinte minutos em que esperava meu ônibus para a estação Conceição do metrô, não passou sequer um ônibus, fiscal da CET, idem. Passaram, sim, quatro carros em alta velocidade. Impossível para mim resistir à tentação de uma investigação jornalística. Já peguei até alguns depoimentos e fiz fotos, pois a ideia inicial era a de fazer um texto só deste assunto. Ainda o farei, pois há vários aspectos que quero abordar, por exemplo, acessibilidade. Só para encerrar e deixar menos triste o titio Alckmin, o resumo aqui é fácil fazer: Quando você desembarca de um ônibus e desce numa escada rolante ou num elevador de uso preferencial (no meu caso), a impressão é que se está entrando em outro mundo, outra cidade. Porque, descontando-se os inevitáveis problemas de uma estrutura que transporta milhões de pessoas diariamente, inclusive domingos e feriados, pode-se dizer que tudo no Metrô funciona melhor.

Consideração final: Não seria mais coerente que houvesse uma sinergia de esforços, inclusive financeiros, entre essas duas esferas da administração pública paulista, em prol da ampliação da malha metroviária paulistana, em detrimento aos investimentos questionáveis e pouco práticos no velho transporte sobre rodas?

     E para ser justo, só pelo fato de manter um metrô de qualidade   para nós, paulistanos,   Alckmin faz mais um gol e empata o jogo: 4 x 4.

* Estomatologista: médico especializado em saúde bucal.


Paulo Coutinho, jornalista em pele de cronista








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