terça-feira, 17 de setembro de 2013

Andando para trás




Curiosamente, me parece que os defensores da pena de morte são os mesmos que defendem a redução da maioridade penal. Isto implica deduzir que essa parcela da sociedade estaria pronta para exterminar garotos de 16, 17 anos de idade que cometessem crimes hediondos. Seria esse o papel da Justiça? Considerar que qualquer cidadão criminoso, independente da sua idade, deve ser tratado como irrecuperável?
Nem sempre o caminho mais fácil é o melhor. Pois clara está a incompetência do Estado brasileiro até então no que se refere ao tratamento dispensado ao menor infrator. É evidente que entre a antiga Febem e a atual Fundação Casa, nada mudou além da nomenclatura. Amontoados de jovens que mais se “especializam” no crime que qualquer recuperação que as valham. Além do mais, milhares já são dizimados por absolutas pobreza, fome e falta de oportunidades, não carecendo mais um mecanismo de extermínio de nossa juventude.
Mais eficaz seria um verdadeiro esforço e vontade política no sentido de melhorar a Educação e as condições de vida, sobretudo nas periferias dos grandes centros urbanos, aonde a violência explode em níveis alarmantes. Quem sabe se assim não se poderia transformar capacidade e inteligência para o crime em habilidades que os transformasse em cientistas das mais diversas áreas do conhecimento. Jovens especializados em aterrorizar o “psicológico” das suas vítimas, poderiam ter vocação para as Ciências Humanas, por exemplo.
Aterrorizante, sim, é a onda retrógrada que parece nos assolar a cada vez que surgem movimentos bizarros como esse em prol da redução da maioridade penal ou, talvez ainda pior, ideias mirabolantes para controlar os meios de comunicação. Povo de memória curta é o que somos, pois restringir a liberdade de imprensa cheira a saudosismo dos tempos de ditadura, dos “anos de chumbo”. Aos saudosos dessa época tão triste e vergonhosa de nosso passado, melhor que se mudassem para Cuba, Venezuela,Irã, China ou outro desses lugares quaisquer que não respeitam ou nem sequer sabem o que são valores como liberdade.
Por essas e outras, como viver num país com excessivas leis, tão mal aplicadas quanto mal cumpridas, só posso ser contra mudanças que nos façam regredir enquanto não só sociedade, como também humanos que somos.

Augusto Coutinho, jornalista

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