Eu não sou tão antigo e sábio quanto meus heterónimos
Tupiniquincas e Tupiniqueas, mas sou, sim, de uma época em que era muito
difícil se conseguir uma linha telefônica fixa para sua casa. O serviço era
puramente estatal, a cargo da Telebrás e suas subsidiárias, como a Telesp, aqui
em São Paulo. Funcionava assim: você se inscrevia no Plano de Expansão – bonito
nome, não? – e ficava numa fila de espera que poderia demorar anos até chegar a
sua vez. Ah, você pagava por isso. Na prática, cada consumidor ajudava a custear
a tal ”Expansão”. Já com a linha paga e instalada, depois de um bom tempo, a
Telesp mandava uma carta informando sobre os títulos de ações da empresa a que
você tinha direito. Não lembro em quanto resultou a venda dessas minhas ações,
só sei que era um dinheirinho bom para época (seriam cruzeiros, cruzados,
cruzeiros novos? – ah, a nossa moeda mudava muito naqueles tempos bicudos de
hiperinflação que marcaram o fim dos anos 1980. Lembrei! Na verdade,
embarcávamos na nova era do Real, mais precisamente do pré-Real, mas isso posso
contar depois, vamos ao que interessa).
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Sergio Motta, ministro de FHC, morto em 1998 |
A grande
mudança do país nessa área veio durante o governo FHC, no final da década de
1990. Esse foi o período dos esboços das grandes privatizações de estatais.
Conheço bem essa fase, pois, então, atuava como jornalista no setor industrial
e de energia. Tive a oportunidade de entrevistar o grande artífice das
privatizações da telefonia durante o governo FHC: seu ministro das
Comunicações, Sergio Motta. O homem era um tratorzão, tinha afama de postura
rude, às vezes, mas conhecia o assunto e encarnava o espírito privatizador
daquela gestão federal. Na ocasião, Motta explicou-me quais eram os planos para
desenvolver no país novidades como a banda larga para internet e telefonia
celular. O plano pareceu-me bem feito e razoável. Eles “fatiavam” a telefonia
celular também por bandas, diferenciadas tecnológica e regionalmente. E essas
fatias seriam efetivamente leiloadas só depois de sua morte, por infecção
hospitalar, em 1998 – especula-se que a doença fora provocada por falta de
manutenção do ar-condicionado do seu gabinete, puxa!
Vieram então as grandes multinacionais do setor que ainda
aqui estão, e o resto da história todo mundo sabe:
As gigantes
da telecomunicação vieram de olhos gananciosos no grande potencial de nosso
país, porém nunca, em meu julgamento, se esforçaram tanto assim para nos
prestar serviços ao nível em que prestavam
em seus países de origem. Mais ou menos como se dissessem: “Esse povinho
tupiniquim não precisa de tecnologia de ponta, quer só falar ao telefone, vamos
ganhar dinheiro e eles que se lasquem”. E é na prática o que está acontecendo
conosco.
Vou dar um exemplo prático:
Comecei a escrever só agora, porque fiquei mais de 20 horas
sem conexão, assim como televisão a cabo. Ambos serviços prestados pela empresa
Net (que me cobra quase 100 paus por uma conexão de 5 megas, mais uma
programação chifrim de TV, que praticamente só traz os canais abertos). A bem
da verdade, porém, a partir da reclamação, ontem, mais ou menos às 16h, até que
agiram rápido. O técnico veio hoje às 9h e pôs tudo para funcionar. O motivo
relatado por ele para a falha foi no mínimo prosaico, para não dizer bizarro:
Disse-me o moço que o problema estava no poste da rua. Deu a entender que fora
causado por outro colega funcionário da Net. Teria o distraído invertido a
numeração da minha casa na etiqueta deles lá no poste. Esse mesmo camarada ou
outro da turma da Net constatou que o plano não coincidia com a outra casa numerada
e, simplesmente, desligou o serviço. Tudo conjecturas do moço, mas que fazem
sentido, fazem, além do que, se trabalha lá, sabe como funciona (ou não) as
coisas.
Em resumo,
como consumidor, sinto que não temos para onde correr. Aqui em São Paulo, por
exemplo, as opções de internet se
resumem, praticamente, à Net ou à Vivo. Sobre novas competidoras com rede de
fibra ótica, como Claro e TIM, pouco posso falar a respeito, são novas, nunca
ouvi falar bem ou mal, a não ser da pouco ética mocinha atendente da Vivo, que
desandou a falar mal dessa nova concorrência, alegando que ainda não dominavam a
tecnologia de fibras óticas, pode?
Paulo Coutinho, repórtertupiniquim que vivenciou grandes momentos da
República.
15/11/2013