terça-feira, 22 de outubro de 2013
Agenor e Angenor - Cazuza e Cartola
Há inúmeros motivos para se ter orgulho de ter nascido nas terras tupiniquins. Um deles, sem dúvidas, é a riqueza de nossa música. São tantos os grandes artistas brasileiros, que impossível seria falar de todos com a pompa e circunstância que merecem esses gênios da poesia e acordes. Dedico este post a dois dos maiores poetas e compositores brasileiros de todos os tempos. Ambos tem históricos que os aproximam, guardadas as devidas diferenças de época vivida e estilos musicais distintos.
O "gancho" deste texto é o fato de o Museu da Língua Portuguesa - um espaço bem legal que tem aqui em São Paulo, dedicado ao nosso idioma - inaugurar hoje, dia 22 de outubro, a exposição "Cazuza, Mostra a sua Cara". Até o dia 23 de fevereiro de 2014. O Museu da Língua Portuguesa fica na Praça da Luz - fácil acesso pela estação de metrô do mesmo nome. Informações pelo fone (11) 3322-0080.
Ao resolver fazer esta nota sobre a justíssima homenagem à
Cazuza, nascido com o nome de Agenor Miranda Araújo Neto, foi
inevitável lembrar de um outro grande Agenor da música brasileira:
o inquestionável Cartola, que por um erro cartorial foi registrado
como Angenor de Oliveira. O primeiro nasceu em 4 de abril de
1958. Cartola nascera meio século antes, em 11 de outubro de
1908. Porém, ao estudar as biografias de ambos, consegui
encontrar coincidências entre os dois, além da genialidade que
cada qual demonstrou em suas respectivas gerações. Tanto um
quanto outro tiveram carreiras relativamente curtas. A de Cazuza
durou não mais que nove anos - de sua estreia no Barão Vermelho,
em 1982, passando por carreira solo, até sua morte em 7 de julho
de 1990. Cartola, por sua vez, é caso raro de artista que começou
tarde. Embora já tivesse composto muitas canções até a década de
1930, foi apenas aos 66 anos de idade que gravou seu primeiro
disco. Era 1974, mesmo ano em que Cazuza passava férias em
Londres, onde o jovem bebeu direto na fonte de suas principais
influências musicais, Led Zeppelin, Janis Joplin e Rolling Stones.
Cartola morreu em 1980, aos 72 anos. Cazuza deixou-nos dez anos
depois, em 1990, com apenas 32 anos de idade.
Outra coincidência entre esses dois monstros sagrados da MPB
está no fato de que ambos foram impulsionados por tragédias
pessoais para ter uma profícua fase criativa no final de suas vidas.
Enquanto Cazuza enfrentava a AIDS compondo alguns de seus
maiores sucessos, Cartola teria entrado em fase depressiva tão
profunda ao deixar a Mangueira por desentendimentos e perder a
esposa Deolinda, que simplesmente sumiu durante a década de
1940. Foi encontrado somente em 1956, pelo jornalista Sergio
Porto, responsável por sua recolocação na cena musical. Porto o
encontrou trabalhando como lavador de automóveis. A partir de
sua volta, Cartola contou com o apoio de grandes nomes da música
para a gravação de seu primeiro disco. Entre eles, Paulinho da
Viola, Elizeth Cardoso, Clara Nunes e Beth Carvalho.
E como Deus é justo, além de brasileiro, ficou para a posteridade
registros de um jovem Cazuza interpretando um dos maiores
sucessos do mestre, "quase xará", Angenor. Clique no link para
escutar "O Mundo é Um Moinho", de Cartola, na voz de Cazuza.
Reparem como trata-se de letra que podia muito bem ter sido
escrita por Cazuza - tamanha a sensibilidade e veia poética que
aproxima esses dois ícones da música brasileira.
Cazuza interpretando "O Mundo é um Moinho", de Cartola, nesse vídeo:
>>>>http://www.youtube.com/watch?v=VxGr9LFtg3o
Maior Abandonado, grande sucesso de Cazuza, ouça:
http://www.youtube.com/watch?v=hh4HWgPfdvw
"As Rosas Não Falam", das mais lindas de Cartola, em sua voz:
http://www.youtube.com/watch?v=te2HfDsXcXs
Curiosidades:
- Em seu currículo, Cartola aparece como nada menos que um dos fundadores da escola de samba Mangueira, junto com Carlos Cachaça e outros sambista do morro, até então uma pequena favela. Esse grupo, em 1928, fundou o Bloco Arengueiros, que mais tarde originou a tradicional Estação Primeira de Mangueira.
- Também foi de Cartola a escolha das cores da escola, verde e rosa. Tais cores seriam em alusão ao Rancho dos Arrepiados, do bairro carioca das Laranjeiras, onde morou, até dificuldades financeiras levarem sua família a mudar para a Mangueira, onde Cartola entrou definitivamente para o mundo da malandragem e do samba fluminense.
- Cartola compôs "O Mundo é Um Moinho" inspirado numa filha adotiva sua que então enfrentava problemas químicos.
Paulo Coutinho, cronista tupiniquim,
22/out/2013
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