Chega de hipocrisia. Em duas ou
três décadas passamos do complexo de viralatas para a arrogância de nos
acharmos ricos e desenvolvidos. Mas a verdade é que estamos ainda é muito
atrasados ao que diz respeito sermos um
povo deveras civilizado. O antagonismo de nossa existência força minha visão a
todo momento. Somos capazes de recordes
seguidos na produção de grãos – pelo menos aquela velha história de que seríamos celeiro do mundo
torna-se a cada dia mais real. Não fosse a costumeira incompetência, descaso e
gatunismo de praxe amalgamados nos séculos de colonialismos, coronelismos,
generalismos, consumismos, banditismos e
redemocratização falha que reflete nossa história. A recente supersafra de soja e outros grãos é exemplo
certeiro de nossa incompetência. Como num arremedo do conto do ladrão que roubava, mas não podia carregar
o fruto do roubo, o Brasil tem hoje enorme capacidade técnica para a produção
do “ouro verde” – o mundo inteiro precisa comer, são bilhões de bocas! Mas não
damos conta de “carregar” e embarcar as milhões de toneladas de alimentos,
grande parte já negociadas para
diferentes regiões do planeta. Como brasileiro, desempregado a despeito de
ampla qualificação, me revolta ver notícias de filas quilométricas de carretas
graneleiras perfiladas em pistas e acostamentos de estradas próximas aos nossos
arcaicos e defasados portos.
Assim, um país sem competência
até para transportar suas riquezas – que não são poucas, assume a
responsabilidade de sediar grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Senão vejamos: centro urbano mais desenvolvido no país, São Paulo conta com
malha pífia de transporte público coletivo – insuficiente e de baixa qualidade
para os pobres mortais que vivem por aqui. Será que o governo petista, de Dilma
no Planalto e de Fernando Haddad no município, possui a varinha mágica que,num
único toque, será capaz de concluir estádios, reformar aeroportos e construir
milhares de quilômetros de metrô e corredores de ônibus necessários para suprir
a demanda no curtíssimo prazo dos
próximos três anos? E, por falar nisso, cadê o trem-bala que ligaria
São-Paulo-Rio de Janeiro em cerca de uma hora?
Não quero ser pessimista, mas, se
a proposta era a de passar vergonha por
nossas mazelas, bastava apresentar ao mundo nossas dificuldades para
escoar uma supersafra agrícola. E paro
por aqui, porque Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil são assuntos para um
próximo artigo.
Augusto Coutinho, Jornalista
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