Curiosamente, me parece
que os defensores da pena de morte são os mesmos que defendem a redução da
maioridade penal. Isto implica deduzir que essa parcela da sociedade estaria
pronta para exterminar garotos de 16, 17 anos de idade que cometessem crimes
hediondos. Seria esse o papel da Justiça? Considerar que qualquer cidadão
criminoso, independente da sua idade, deve ser tratado como irrecuperável?
Nem sempre o caminho
mais fácil é o melhor. Pois clara está a incompetência do Estado brasileiro até
então no que se refere ao tratamento dispensado ao menor infrator. É evidente
que entre a antiga Febem e a atual Fundação Casa, nada mudou além da
nomenclatura. Amontoados de jovens que mais se “especializam” no crime que
qualquer recuperação que as valham. Além do mais, milhares já são dizimados por
absolutas pobreza, fome e falta de oportunidades, não carecendo mais um
mecanismo de extermínio de nossa juventude.
Mais eficaz seria um
verdadeiro esforço e vontade política no sentido de melhorar a Educação e as
condições de vida, sobretudo nas periferias dos grandes centros urbanos, aonde
a violência explode em níveis alarmantes. Quem sabe se assim não se poderia
transformar capacidade e inteligência para o crime em habilidades que os
transformasse em cientistas das mais diversas áreas do conhecimento. Jovens
especializados em aterrorizar o “psicológico” das suas vítimas, poderiam ter
vocação para as Ciências Humanas, por exemplo.
Aterrorizante, sim, é a
onda retrógrada que parece nos assolar a cada vez que surgem movimentos
bizarros como esse em prol da redução da maioridade penal ou, talvez ainda
pior, ideias mirabolantes para controlar os meios de comunicação. Povo de
memória curta é o que somos, pois restringir a liberdade de imprensa cheira a saudosismo
dos tempos de ditadura, dos “anos de chumbo”. Aos saudosos dessa época tão
triste e vergonhosa de nosso passado, melhor que se mudassem para Cuba,
Venezuela,Irã, China ou outro desses lugares quaisquer que não respeitam ou nem
sequer sabem o que são valores como liberdade.
Por essas e outras,
como viver num país com excessivas leis, tão mal aplicadas quanto mal
cumpridas, só posso ser contra mudanças que nos façam regredir enquanto não só
sociedade, como também humanos que somos.
Augusto Coutinho,
jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário